Antigo instrumento de peso e medida no CEMIP

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Uma Babel de Medidas

A necessidade de medir é muito antiga e remonta à origem das civilizações. Por longo tempo cada país, cada região, teve seu próprio sistema de medidas. No Brasil não foi diferente. As unidades de medidas, eram geralmente arbitrárias e imprecisas, como por exemplo, aquelas baseadas no corpo humano: palmo, pé, polegada, braça, côvado.

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Parte do acervo de frascos de medidas do Cemip – foto: Yuri Victorino. 

Isso criava muitos problemas para o comércio, porque as pessoas de uma região não estavam familiarizadas com o sistema de medir das outras regiões, e também porque os padrões adotados eram, muitas vezes, subjetivos. As quantidades eram expressas em unidades de medir pouco confiáveis, diferentes umas das outras e que não tinham correspondência entre si.

caneca 2

Detalhes das canecas mensuradoras – foto: Yuri Victorino. 

A necessidade de converter uma medida em outra era tão importante quanto a necessidade de converter uma moeda em outra. Na verdade, em muitos países, inclusive no Brasil dos tempos do Império, a instituição que cuidava da moeda também cuidava do sistema de medidas.

caneca 3

Pequena caneca mensuradora de Centilitro – foto: Yuri Victorino. 

O Cemip através da Política de Aquisição desenvolvida em 2013, vem adquirindo alguns objetos tridimensionais de unidades de medidas, pois acredita que são relevantes para explicarem como se deu a feitura dos dados inseridos nos documentos fiduciários. Existem no acervo da instituição recibos, notas e documentos que relacionam quantidades de litros, quilos e medidas de materiais diversos. Como exemplos os frascos de medidas ilustrados nesta postagem. São canecas feitas de uma liga pobre de chumbo, provenientes da França, usadas durante o Império e República Velha no Brasil. Foram utilizadas até o início do século XX por fiscais, que regulamentavam as medidas de líquidos na indústria e comércio.

O Sistema Métrico Decimal

Em 1789, numa tentativa de resolver esse problema, o Governo Republicano Francês pediu à Academia de Ciência da França que criasse um sistema de medidas baseado numa “constante natural”, ou seja, não arbitrária. Assim foi criado o Sistema Métrico Decimal, constituído inicialmente de três unidades básicas: o metro, que deu nome ao sistema, o litro e o quilograma. (posteriormente, esse sistema seria substituído pelo Sistema Internacional de Unidades – SI).

Litro

A unidade de medir a grandeza volume, no Sistema Métrico Decimal, foi chamada de litro e definida como “o volume de um decímetro cúbico“.

O litro permanece como uma das unidades em uso com o SI, entretanto recomenda-se a utilização da nova unidade de volume definida como o metro cúbico.

O Sistema Métrico Decimal no Brasil Imperial

A Constituição do Brasil imperial inclui o estabelecimento de padrões metrológicos entre as atribuições ao Poder Legislativo. Em 1830 o deputado gaúcho Cândido Baptista de Oliveira, também professor da Academia Militar, apresentou projeto à Câmara dos Deputados para a adoção do sistema métrico francês, com ampla exposição sobre as vantagens desse sistema decimal propondo inclusive a compra de padrões à França.

Apesar disso, o tema só voltou a ser discutido em 1833 por meio do parecer de uma comissão que, ao buscar não se distanciar dos costumes estabelecidos, tentava definir padrões nacionais unificados que servissem para o estabelecimento de tabelas de conversão adequadas à realidade do comércio internacional. Nessa tabela aparecem unidades portuguesas ao lado de uma nova unidade de massa, o marco, confrontadas com as do sistema métrico, numa verdadeira “babel de medidas”.

transcrição de relatório sobre o melhoramento do sistema de pesos e medidas

transcrição de Decreto de 1830 – sobre rastreamento de padrões da província de S. Paulo

transcrição de Decreto de 1832 – que equipara os salários de aferidores

A Lei Imperial de 1862

Em 1859, Cândido de Oliveira, a pedido do Ministro da Fazenda, publica no Jornal do Comércio uma análise da questão da adoção de um sistema uniforme de unidades destacando a existência de um movimento internacional visando a padronização dos sistemas de “pesos e medidas” comum a “todos os países civilizados da Europa e da América”, tendo por base uma unidade invariável subordinada ao princípio decimal de correlação.

Paralelamente, os integrantes de uma comissão enviada à Exposição Universal de Paris de 1855, com o objetivo original de adquirir instrumentos científicos, assinaram um compromisso de envidar todos os seus esforços para que o Brasil adotasse o sistema métrico, lembrando que já havia sido adotado por outros países, inclusive Portugal com o qual o Brasil mantinha estreitas relações comerciais.
Em 1860 o novo Regulamento da Casa da Moeda passou a atribuir-lhe encargos de uma comissão de pesos e medidas e, dois anos depois, a decisão expressa na Lei 1.157 de 26 de junho de 1862, substituía formalmente todo o sistema de unidades em uso no Império pelo sistema métrico francês.

transcrição da Lei Imperial de 1862

transcrição do curioso Edital de 1868 do fiscal da Vila de Catimbau (MG)

Regulamento da Lei Imperial

Ainda assim a implementação do sistema métrico decimal seria lenta. O ministro da Agricultura afirmava, em relatório de 1864, que a escolha dos padrões e instrumentos de medição havia sido apenas encomendada a um cientista francês. O relatório de 1867 afirmava que algumas antigas medidas de volume para secos e para líquidos haviam sido recolhidas nas províncias, mas os padrões vindos da França ainda se encontravam nos caixotes. O Regulamento definitivo para a execução da Lei 1.157 viria apenas em dezembro de 1872, portanto dez anos após sua promulgação.

 Se seus documentos, fotografias, livros ou objetos tridimensionais necessitam de gestão, tratamento e digitalização, o CEMIP pode promover ações destas naturezas. Para tanto acesse os canais de comunicação disponíveis no site da instituição. O importante é possibilitar o acesso às informações contidas nos documentos.

Aproveite e veja as últimas notícias sobre o que andamos fazendo no Centro. Basta acessar o Magazine CEMIP. Obrigado.

yuri-cemip

Referências:

http://www.ipem.sp.gov.br/<acessado em 27/03/2016>

http://www.inmetro.gov.br/<acessado em 27/03/2016>

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Yuri Victorino

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